quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Milonga de Lutas e Sonhos

Eram poucos, uma meia dúzia. Uns se conheciam, outros foram chegando e se conhecendo em meio ao tumulto dos dias que se seguiram. Era um tropel, era bala que zunia, era ferro que se batia contra ferra, eram ideias, sementes e sonhos, quase como lanças, quase como espadas, aço contra aço que se cruzavam nos entreveros. Foram dias multicores, manhãs de primavera. Seus espíritos trasnbordavam de chamas como o fogo de chão nos galpões grandes nas estânicas da alma. Assim, formaram uma trupe e fizeram escaramuças, conquistaram cidades, combateram o inimigo em todas as suas frentes e se fizeram fortes. Lutaram contra uma imensidão, brigaram com um monstro de muitas cabeças e formas, mas sempre tiveram esperanças. Fizeram armas até de taquara e juntaram um exército esfarrapado.
Às vezes, a disparidade de forças fazia com que brigassem entre si, mas logo redobracam os sentidos e iam em frente. Vencendo uma batalha aqui, outra ali, tendo como estandarte as suas bandeiras rotas, os pés sujos, as testas suadas, os músculos exaustos, os corpos em feridas. Balançaram os palas ao vento meio das tropas, quase não dormiram por anos a fio, fizeram os planos mais loucos: E ousaram. E o povo gostou deles e os aplaudiu . Mandaram mensageiros. E tudo lhes dava mais força nessa luta sem-fim que travaram nos confins do Sule e das utopias.
Então chegou o dia em que eles perderam a batalha decisiva. Foi como uma névoa que lhes cobriu os olhos tresnoitados. Suas fisionomias se trasformaram em álbuns de memória. Em tudo ficou uma cerração, que gela e entristece. Dignos recolheram seus mortos,trataram seus feridos, levantaram a bandeira branca e entregaram o território conquistado a duras penas para o inimigo. Pareciam derrotados . Sem mais nem menos, deram um grito unísono que ribombou pelos campos e pelas cidades.
E, para surpresa geral, começaram a sorrir. Seus semblantes mostravam a cara dos que brigm pela liberadade, daqueles que querem ser livres de forma incondicinal, dos que não se não se conformam. E todos sentiram a vibração daquelas almas, dos espíritos que não queriam calar. Tinham umas caras boas e claras. Não, ali não estava o fim.
Ali estava só o começo....
Agora, todos os respeitam, os que foram loucos um dia, aqueles que brigaram pela terra, pelos direitos, os que carregaram nos braços os parceiros ensanguentados. Todos sabiam que tinham lutado, o mundo os temia, porque, se morrem ressucitam todos os dias em nossos corações.

Fonte: Jornal Correio do Povo.
Paulo Mendes.
Campereada